Tridente de ouro sobre azul. O que significa e como nasceu o brasão de armas da Ucrânia?

por Carla Quirino - RTP
Twitter

O símbolo do tridente como brasão de armas ucraniano remonta ao século X, mas a imagem tem acompanhado as comunidades que se instalaram há mais de dois mil anos no território. Do divino Poseidon à chegada do cristianismo, das moedas do século X ao brasão dinástico do séc. XV, os testemunhos arqueológicos têm ajudado a contar a história do famoso tridente.

O Tridente - tryzub – em ouro sobre a cor azul é o brasão de armas oficial da Ucrânia e faz parte da bandeira do país.

Para a história do símbolo do tridente convergem várias teorias. Uma delas remonta ao templo grego clássico, no primeiro milénio antes de Cristo.

O tridente era o símbolo de Poseidon, o deus do mar no panteão grego, e foi encontrado em diferentes sociedades, como o Reino do Bósforo e o Reino Pôntico, que eram colónias gregas no Mar Negro.

A simbologia do tridente do deus Poseidon remete para a força, o poder e combate e por isso o tryzub também passou a representar essas características de poder e força, sendo empregado como um emblema militar e de guerra.

A imagem podia figurar como emblema religioso e militar, símbolo heráldico, emblema de Estado, monograma ou simplesmente um ornamento decorativo.
Volodymyr
Os registos mais antigos do tridente descobertos por arqueólogos em território ucraniano datam do século I d.C., mas é com a Dinastia de Rurik, fundada pelo príncipe Rurik, descendente de tribos vikings, cerca de 862, que a imagem é reutilizada.

No séc. X, o símbolo passa a ter maior visibilidade com o príncipe Volodymyr, o Grande (980–1015) a emitir várias moedas em ouro e prata com o tridente estampado. Perante os lapsos temporais de provas materiais anteriores, os especialistas acreditam que o símbolo tenha sido herdade de tribos ancestrais e passado entre gerações até aos reinados do séc. X.


Tridente numa moeda do periodo de Volodymyr | Enciclopédia da Ucrânia

Volodymyr foi o responsável por introduzir o cristianismo bizantino no território ucraniano e o tryzub passou a ser associado à cruz, que simboliza a Santíssima Trindade. No brasão de armas, a cruz tomou o lugar por cima do falcão de asas abertas, ave real e nobre, que corresponde, por sua vez, a poder, autoridade, força e vitória.

Foram descobertas perto de 200 variações medievais do tridente e na transição do séc. X, o brasão ganhou as formas semelhantes a um tridente.


Tridente registado num tijolo de igreja do séc. X | Enciclopédia da Ucrânia

Além de moedas, a imagem foi fixada nos tijolos da Igreja dos Dízimos em Kiev, datada de 986-96, e nos ladrilhos da Catedral da Dormição em Volodymyr, quase dois séculos depois. Cerâmicas, tecidos, armas ou anéis também serviram de suporte para o decorativo tridente.
Mykhailo Hrushevsky (1866-1934)
Mykhailo Hrushevsky, considerado como um dos mais distintos historiadores ucranianos da transição do século XIX para o século XX, rastreou a história da Ucrânia e do povo ucraniano até o período de Kyivan Rus' – primeiro Estado eslavo oriental organizado em 880, com a cidade de Kiev como sede da Dinastia de Rurik.

O académico resgatou a simbologia das origens da nacionalidade e recomendou a reutilização do tridente do principe Volodymyr, ligando o estado moderno ao passado medieval.


Medalhão de Yaroslav (1019-54) | Enciclopédia de Ucrânia

O tridente foi adotado pela Pequena Rada (Assembleia política) a 12 de fevereiro de 1918 e pela Rada Central em 22 de março de 1918 como o brasão de armas da República Nacional Ucraniana.

Após a dissolução da União Soviética, a Ucrânia restaurou a independência em 1991 e o Conselho Supremo da Ucrânia aceitou o tridente como elemento principal do brasão do Estado, a 19 de fevereiro de 1992.
Tópicos
pub